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O Sorriso do Palhaço – Partes I e II

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Como havia comentado no Facebook, estou centralizando meus dois blogs aqui!

As ilustrações e contos estarão divididos por tags, assim continuará tendo fácil acesso.

Aqui estão as duas primeiras partes da história “O Sorriso do Palhaço”, esta semana pretendo continua-la e conforme for passando o tempo coloco as outras duas aqui, não colocarei todas de uma vez para não sobrecarregar o blog de informação ( sobrecarregar mais).

– Respeitável publico, bem vindos ao circo! Onde localizamos cada fio de alegria que existe dentro de você e formamos em uma gigante explosão de felicidade!

Esse era o discurso inicial do host do circo, era incrível como esse cara sabia falar, eu quase me convencia de que isso era verdade, alias era verdade, as pessoas realmente se sentiam muito bem no circo, gargalhavam com todas as peripécias dos artistas que se apresentavam, riam, choravam, se enraiveciam quando os atores interpretavam vilões, se comoviam quando os mocinhos salvavam a donzela e eram tocados por qualquer coisa que acontecia.

Eu sempre ficava observando como o publico interagia com o espetáculo, o como cada cena, cada apresentação mudava suas reações: sorrisos, lagrimas, gritos, euforia!

De repente no meio dessa reflexão eu ouço me chamarem, eu o palhaço…

Agora o foco da minha reflexão muda, a partir deste momento começo a tentar me entender, o porque eu tenho essa grande vontade de fazer as pessoas rirem, o porque isso me faz tão bem, o porque eu me preocupo tanto com os outros, mas naquele momento não me interessava aquilo era o que eu era, eu precisava ver aqueles sorrisos, não admitia falhar era a coisa mais importante do mundo, já não existia fome, miséria, desigualdade éramos todos iguais, todos rindo de um palhaço… Quando acaba aquele fervor, saio com uma sensação de missão cumprida e com sorriso no rosto dizendo hoje foi mais um dia perfeito, só que a minha euforia vai se esvairindo e de repente cai a ficha, meu sorriso some do rosto e tudo perde o sentido, começo a pensar de cada sorriso daquele picadeiro, mas não consigo lembrar do meu sorriso, aquilo era apenas uma felicidade por estar causando felicidade.

Perai causar felicidade, isso é maravilhoso, as pessoas quando riem esquecem os problemas, elas por um momento encontram um sentido pra tudo, ela se sente invencível pensando que pode lidar com todo tipo de situação, como isso pode ser uma coisa ruim… Bom isso não é uma coisa ruim, mas agora vamos parar com eles isso e eles aquilo, vamos focar aqui, nesse momento estamos falando deste palhaço, não me lembro da ultima vez que tive vontade de sorrir.

Tento entender como uma pessoa que foi feita para fazer as pessoas rirem, não ter vontade de rir, será que isso me faz bem? Será que eu por um momento não tomo a alegria que eu proporciono como minha? Quantas perguntas… Desde que coloquei esse nariz vermelho no rosto, não consigo respondê-las.

Um dia eu ouvi dizerem como pode um palhaço estar triste? Aquela figura que alegra tanto, que está sempre pulando de um lado pro outro, e a hora da torta, ha! Não tem como um palhaço estar triste, ele não conseguiria disfarçar… Os palhaços devem ser as pessoas mais felizes do mundo. É… Não somos, talvez sejamos até o contrário, as pessoas mais infelizes que por orgulho não deixamos saberem o que realmente sentimos, em um ato de desespero fazemos as pessoas rirem para que nossa alma azul fique disfarçada. Nos encolhemos a qualquer demonstração de afeto como se fossemos lesmas quando são expostas ao sal ou sol.

Quando digo “nós” não quero falar por todos os palhaços, quem sou eu para querer falar por eles… Mas tenho certeza que falo por muitos, e que eles com certeza compartilham desse sentimento de insatisfação, estamos perdidos, a única certeza que temos é quando estamos dentro daquele picadeiro, e sempre tentamos e “fazemos a risada” da melhor maneira que se pode fazer.

Acordo cedo, é preciso ensaiar, mas antes preciso me maquiar, uma vez me permiti levantar um pouco mais tarde, e acabei indo para o ensaio sem maquiagem, esse dia marcou minha vida, dizem que a alma do palhaço é repleta de alegria, portanto a maquiagem é apenas uma persona, um complemento ao seu grande esplendor, pura mentira, aquele dia me olhando no espelho fazendo as mesmas brincadeiras e palhaçadas de costume que faziam as crianças rirem, as pessoas sorrirem, eram simplesmente tristes…. Um homem adulto, crescido, meio gordo, não era o mais feio mas com certeza não era um colírio, pulando, falando com vozes estranhas, era triste. Foi onde eu comecei a questionar a minha felicidade.

Eu sou bom no que eu faço, eu sei disso, há quem me chame de nojento, há quem diga que me falta humildade, mas não, isso é minha vida, eu tenho que ser bom no que faço se falhar nisso o que me resta? Nada! Sou solteiro, não tenho filhos, tenho poucos amigos, é… Tenho poucos amigos, depois de um tempo você começa a questionar a índole das pessoas, eu acho que isso com começou junto com a minha duvida, junto com a procura pelo meu sorriso.

Meu pai era palhaço, ele sabia como dar um show, sempre antenado usava o que estava acontecendo com o mundo em seu show, todo dia era um show diferente.

Ele queria que eu me tornasse um palhaço melhor que ele, dizia que estava em meu sangue… Bom, aqui estou mas… Mas não consigo lembrar, eu não lembro do meu sorriso, mas é claro eu não consigo nem me lembrar qual meu sonho, por que eu luto? Quais são meus objetivos? Uma pessoa não sobrevive sem objetivos,  hoje sei que estou vivendo o sonho dele, mas qual era o meu sonho? Eu era um jovem esperto, era tão dedicado como sou hoje.

Perai! Começo a me lembrar, as palavras “você jogou sua vida fora”, é verdade houve o dia em que desisti de ser palhaço para seguir meu sonho, meu sonho… Qual era mesmo o meu sonho?

Era jovem e fascinado pelo circo, mas via o circo como fã não conseguia me ver lá dentro, era tudo muito surreal, um mundo sem lógica, sem pé nem cabeça. Pessoas atirando facas de maneira absurdamente precisa, tinha a mulher barbada, um homem que entrava na jaula do tigre branco, pessoas pulando pelos ares e é claro os palhaços, os seres que tinham apenas a função de fazerem as pessoas rirem.

Não cheguei a conhecer a minha mãe, ela por complicações durante o meu parto faleceu, meu pai sempre falava dela, ela era dançarina no circo, ele falava que ela era a pessoa mais carinhosa do mundo, sempre com um sorriso doce em seu rosto, tinha os cabelos cacheados, castanhos, ela era morena com os olhos castanhos claros, olhos bem pequenos, tão pequenos que chegavam a perguntar se ela era japonesa. Minha família por parte de mãe tem descendência indígena, isso explicava seus olhos “pequenos”, ela era bem magrinha, meu pai dizia que quando ventava tinha medo até de ela sair voando por que não tinha peso para sustenta-la.
Ele sempre que falava dele ficava com o olho marejado, cheio de lagrimas, dizia que era uma mulher incrível sempre se sacrificava pensando no próximo, que aquela mulher nasceu sem um pingo de egoísmo, e ele até ficava bravo, pois ela nunca pensava nela, sempre pensando no próximo.

Isso explica algumas coisas sobre mim, eu tenho problemas com prioridades, quero que primeiro todos que estão em meu redor estejam satisfeitos, ai começo a me preocupar comigo, mas de qualquer jeito, não levo as coisas muito a sério é um se preocupar meio largado, fazendo as coisas de qualquer jeito. Fico pensando se ela estivesse aqui, se as coisas teriam sido diferentes…

Mas enfim, por ela não estar conosco eu era obrigado a passar meu tempo livre no circo, aprendi muitas coisas, inclusive que não tenho coordenação nenhuma! Uma vez tentei fazer o numero do malabares e faltei matar meu professor de vergonha, não nasci para aquilo.

Com o tempo fui afirmando na minha cabeça que não era aquilo o que eu queria, eu era mais inteligente do que habilidoso, na verdade, a minha habilidade era minha a inteligência, não conseguiria fazer as coisas “legais” do circo, nunca que conseguiria saltar no trapézio ou fazer aquelas apresentações que 50 pessoas juntas formam uma pirâmide. O que me sobrou? Viver o sonho do meu pai, mas ele amava aquilo, olhando para ele percebia-se que ele era uma pessoa realizada, tinha orgulho dele! Mas nunca houve compreensão, ele era pior que um cavalo com viseira, não enxergava o que acontecia ao seu redor. O mundo não era o mesmo, as coisas estavam diferentes.

Foi ai que eu comecei a busca por uma melhor qualidade de vida, e junto com essa busca as coisas ficaram mais difíceis na casa dos palhaços.

Continua…

Logo mais volto com mais histórias, textos, ilustrações e muito mais!